O Sport Club Barreiro terminou a época no 7º lugar da classificação final da Série Açores em 2012/13, garantindo a manutenção e a presença no novo Campeonato de Futebol dos Açores. Um desfecho, certamente, que satisfez as pretensões da direção da coletividade...
Satisfaz e muito. Entrámos em prova com uma equipa praticamente do regional, apenas com alguns ajustes, e o nosso grande objetivo passava pela manutenção. Isso foi conseguido com sucesso graças ao enorme trabalho da equipa técnica e jogadores. Penso que foi um objetivo mais do que conseguido. Talvez pudéssemos ter melhorado o 7.º lugar, mas, na verdade, essa não foi uma preocupação a partir do momento em que garantimos a permanência. A manutenção sempre foi o mais importante e isto foi conseguido, volto a repetir, com muito trabalho.
O que mudou em relação às duas anteriores participações do Barreiro na Série Açores?
Também estive presente nessas duas épocas na Série Açores, na altura enquanto diretor. Penso que tem um pouco a ver com os atletas, com a forma como encararam a prova, mas também com a equipa técnica. O Hildeberto Vieira é um treinador que aposta na juventude e na qualidade, retirando daí bons frutos. Por outro lado, também a direção apoiou a equipa ao máximo, reunindo-se um conjunto de fatores essenciais para o sucesso.
Ao contrário do que muitos opinam, penso que a Série Açores foi um campeonato competitivo, apesar de o Praiense ter garantido o título com alguma vantagem pontual. Mas a luta pelo segundo lugar que garantia a subida foi bastante animada, o mesmo acontecendo pela fuga à despromoção. O Barreiro tentou alcançar este objetivo o mais rapidamente possível, com algumas equipas a lutarem por essa meta praticamente até à última jornada. Aliás, existiam várias equipas com muitos jogadores de fora.
Somos uma equipa de freguesia, que encontra sempre imensas dificuldades para competir com outros adversários, apetrechados com plantéis muito superiores. Penso que é um verdadeiro feito aquilo que conseguimos alcançar. Tentamos, todavia, praticar bom futebol. Já há alguns anos que mantemos sempre o mesmo sistema, o chamado "futebol de pé para pé". No fundo, não colocamos a bola lá para a frente de qualquer maneira. Esta é uma característica do nosso treinador e do próprio clube. Desde a formação até aos seniores que tentamos incutir esta filosofia em todas as equipas.
DIFÍCIL RECRUTAR
Hildeberto Vieira vai manter-se como treinador principal do Barreiro para a próxima temporada?
Sim. O Hildeberto vai manter-se à frente da equipa técnica do Barreiro. Trata-se de um treinador que já está no clube há várias épocas, tendo começado na formação. Enquanto presidente, o meu pensamento passa sempre por manter o treinador do princípio ao fim, aconteça o que acontecer. Não há mudanças de treinador. Há no clube uma mística de muita amizade, capaz de criar uma união bastante forte. Somos um grupo de amigos, estamos juntos há muitos anos e compreendemo-nos na perfeição.
Quais são as linhas bases que vão definir a constituição da equipa para a nova época?
Ainda estamos a preparar o plantel, sabendo de antemão que já existem saídas confirmadas. Vamos tentar colmatar estas ausências, mesmo percebendo que não é um trabalho fácil. O Barreiro não tem capacidade para ombrear com outros clubes, até porque, pelo que vou ouvindo, estão-se a propor valores incríveis. Nós não conseguimos lá chegar. Tentamos cativar juniores de segundo ano ou jogadores que se estreiam nos seniores para integrar o nosso plantel, algo que já na época passada aconteceu. Estamos obrigados a trabalhar com a juventude, mas a verdade é que temos conseguido resultados. Vamos voltar a dar oportunidades aos jovens e esperamos que eles as saibam agarrar, percebendo que é sempre um risco.
As principais referências da equipa em 2012/13 estão de saída?
Sim. O Lhuka saiu para o Angrense e o Miranda e o Ronaldo estão a caminho do Lusitânia. O Barreiro não possui equipa de juniores, mas vamos tentar colmatar estas saídas com jovens jogadores de outros clubes. Como já referi, isto é sempre um risco, mas não vamos baixar os braços e, com o nosso treinador, o trabalho será feito. Neste momento, o plantel do Barreiro está longe de estar fechado.
Confirma as palavras de Hildeberto Vieira quando se queixa do 'constante assédio' aos jogadores por parte de outros clubes?
Penso que é algo que pode afetar o próprio rendimento do atleta. Temos tentado demover as pessoas, mas por vezes não existe respeito. Aconteceu este ano e ainda está a acontecer. A verdade é que o Barreiro tem fornecido vários jogadores a outras equipas, mas não tem ganho nada com isto. Ganhamos prestígio e projeção, mas pouco mais. Aliás, se fizéssemos uma equipa só com atletas do Barreiro, se calhar estaríamos a lutar pelo primeiro lugar. Mas o futebol é assim. Não conseguimos manter certos jogadores, que optam por ingressar em clubes que oferecem valores financeiros superiores. Acaba por ser um trabalho quase inglório.
FORMAÇÃO
Qual a aposta do Barreiro na formação para a próxima época?
Não é fácil ao Barreiro apresentar todos os escalões, até porque, pelo que vamos ouvindo, "Os Leões" também irá fazer algumas equipas. Com dois clubes, torna-se mais complicado. Vamos, de certeza, formar dois escalões, Juniores "D" e "C", estando o terceiro ainda em equação. Pensámos em formar Juniores "A", até porque temos alguns jogadores emprestados, mas provavelmente não irão querer regressar. Seria um passo importante para apoiar a equipa sénior, mas talvez não seja possível.
Qual o campo de recrutamento do Barreiro?
Costumamos dizer que vamos da Ribeirinha à Fonte do Bastardo. A verdade é que alargar este campo iria significar um acréscimo de gastos com transportes. Torna-se, de facto, um cenário bastante limitado, mas é de limitações que falamos quando estamos perante um clube de freguesia. Por outro lado, mesmo que muitos o queiram negar, o futsal continuar a retirar muitos atletas ao futebol. Isto passa-se, inclusive, nos escalões de formação.
Esta descontinuidade torna impossível reeditar os dois títulos regionais em juniores que o Barreiro conquistou no passado?
Sem dúvida que sim. Se repararmos, há sempre muitas equipas nos escalões mais baixos, mas esse número decresce consideravelmente a partir dos Juniores "C". Esta época, por exemplo, eram muito poucas as equipas nos Juniores "A", a antecâmara para os seniores. Fica a pergunta: para onde vão todos estes jovens? Começamos com muita força e, depois, os miúdos "desaparecem". Desta forma, como vamos sustentar as equipas seniores? Com jogadores de fora? Assim, tentamos recrutar jogadores e não conseguimos e alguns optam por apostar em jogadores com alguma idade.
BARREIRO VOLTA MUDAR-SE PARA O MUNICIPAL DE ANGRA
Como analisa as mudanças que, já a partir da próxima época vão acontecer na Série Açores, que se passa a designar de Campeonato de Futebol dos Açores?
Na minha opinião, até como a própria designação do campeonato indica, deveria ser uma prova só para jogadores açorianos. Têm surgido algumas instituições preocupadas com o facto de, em determinadas ilhas, as equipas não terem capacidade para formar os plantéis. A verdade é que o Barreiro tem-no conseguido. Para clubes como o Barreiro, não é correto que tenhamos de defrontar adversários com plantéis praticamente profissionais. Se estamos perante um Campeonato dos Açores, para mais patrocinado com verbas do governo, penso que o jogador açoriano é que deveria ser valorizado.
Embora o Governo Regional vá manter o apoio em moldes idênticos ao que acontecia na Série Açores, a verdade é que já estão confirmados alguns cortes. Para um clube como o Barreiro, o que é que isto significa?
Significa muito. Já fizemos as nossas contas e estes cortes vão obrigar a que o clube também corte, pois não vamos conseguir manter o mesmo orçamento. Vamos redimensionar o clube para a nova realidade, embora, pessoalmente, estivesse à espera de cortes mais profundos face à crise que vivemos. Penso que foi bem pior o que a Câmara fez, passando do 80 para o oito, com diferenças abismais. Aliás, não compreendemos como é que se atribui o mesmo valor a uma equipa de futsal, com plantéis e meses de competição inferiores. O Barreiro, felizmente, tem sido capaz de angariar algumas receitas próprias, desde logo através do nosso bar, mas é algo que não chega para sobreviver.
Preocupa-o as dúvidas que ainda surgem quanto à organização da prova, que será organizada pela Associação de Futebol de Angra do Heroísmo?
Primeiro, penso que estamos a fazer um campeonato em cima do joelho, como se costuma dizer. O Barreiro já colocou algumas questões e não obteve resposta. Recentemente enviaram-nos o regulamento da prova, regulamento este que nos prejudica gravemente, pois voltamos a não puder jogar no nosso campo. Fizemos algumas diligências para tentar inverter esta situação, pois é algo que nos cria sérios problemas, quer clubísticos, quer sociais, quer mesmo a nível financeiro. Na época passada tivemos um prejuízo incrível por estarmos obrigados a jogar no municipal de Angra. Como todos puderam constatar, as pessoas do Porto Judeu não foram aos nossos jogos, ou compareceram em número muito inferior ao passado. A verdade é que, agora, não estamos num campeonato nacional e esta norma, quanto a nós, não se coloca. Estamos num campeonato regional. Não percebemos.
Mas ideia que sempre prevaleceu foi a de que o Barreiro poderia regressar a casa em 2013/14...
Exatamente e foi algo que nos foi transmitido por diversas entidades, pois não havia dinheiro para obras. Aliás, a altura ideal para redimensionar o nosso campo foi quando se colocou o sintético. Há algumas ideias, mas que custam muito dinheiro. Certo é que ficámos estupefatos quando recebemos este regulamento. Fizemos uma exposição à Associação de Futebol, mas não obtivemos resposta. Apenas nos enviaram os regulamentos, onde consta a medida de 100x60 metros. Voltamos a não conseguir jogar no nosso campo. Em tempos de enormes dificuldades, vamos ter de arcar com mais este prejuízo clubístico, social e financeiro. As pessoas não imaginam as perdas que o Barreiro tem por estar obrigado a jogar no municipal de Angra.
SEM RENOVAÇÃO, MAS...
CLUBE ASSENTE NUMA MÍSTICA DE AMIZADE
Vai cumprir mais um ano de mandato enquanto presidente do Sport Club Barreiro. O que o motiva a continuar?
O Barreiro é um clube que representa muito para o Porto Judeu e, neste momento, as entidades da freguesia tem apoiado imenso, desde a Junta à Casa do Povo. Uma palavra de agradecimento para estas pessoas. Vive-se no Barreiro um espírito de família e só desta forma é possível ultrapassar obstáculos. Há uma mística de amizade, mas também de exigência, muito grande neste clube e os próprios atletas a sentem. Talvez seja também por isto que continuo. Já várias vezes alertei para a necessidade de uma renovação, mas acabo sempre por ficar mais um ano, fazendo mais um esforço, junto com todos os meus colegas de direção.
A renovação dos quadros diretivos tem sido uma dificuldade?
Sim e pode significar o fecho do clube. Não só no desporto, como em outras atividades, encontrar pessoas para assumir cargos de direção é sempre um enorme problema, pois ninguém mostra disponibilidade para assumir estas funções. Qualquer dia chegamos ao ponto em que os clubes não têm pessoas para abrir as portas.